4.2.10

epaminondas

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Este final do primeiro mês do ano, provavelmente, não será mais esquecido por nós.

Epaminondas, um dos gatos de casa, faleceu.

Foi tão rápido que parece que foi ontem. E pior: parece que nem aconteceu.

Num dia surgiu tossindo estranho, noutro vomitando água, noutro emagrecido, noutro fraquinho e sonolento e mais um dia morto. Meio sem anúncio, sem drama e sem dor.

Epa, esse era seu apelido e não uma interjeição, era assim.

Poucos miados, poucos amigos sempre esperando a chance para fugir rápido pela porta do apartamento e se entregar feliz a um rolar interminável no chão de mármore dos andares acima.

Nonon, esse era seu outro apelido e não o seu ruído característico, nunca foi de bando. Era solo, gato de rua que flagrei filhote "brincando" com cahorros prestes a devorá-lo. Para a menina que olhava perguntei: - é seu? ela disse: - é não, é de nínguém.

Não era mais.

Branquinho e bravinho, veio pra casa e lá se ajeitou. Nada de muitos carinhos nem muitos agrados. Apenas um gato, uma casa, um dono e um novo lar. Do mesmo jeito que chegou se mudou junto comigo e com o resto quando viemos para cá. Um apartamento enorme, cheio de quartos, armários, portas, janelas e escadas.

Aqui, um dia antes antes de se tornar estéril, não por vontade própria mas por nossa necessidade, fecundou. Sem muito tumulto e sem muita demora como é comum aos gatos.

Epa, não o nosso espanto mas o macho branco, possuiu Marylin a fêmea branca e deste encontro veio uma prole de gatinhos, metade felpudos como ele metade curtos como ela.

Mas nem pai, nem marido nem líder Epaminondas queria ser. Ele queria ser sozinho, distante e felino como a maioria dos gatos desejam.

E continuou fugindo. Até que um dia, fugindo pela porta errada, a janela, acabou caindo. Quatro andares até uma mureta. Nenhum ruído. Pensei: Epa, não o gato mas o meu gemido, era uma vez um gatinho...Não era não foi.

Epa, com o céu da boca machucado e muito assustado, voltou do  socorro faminto e pronto para novas escapadas.

Nonon ainda albino, com seu pelo comprido, sofria na pele das pulgas aqui instaladas. Vivia por cima dos móveis, aos pulos, sumindo. Nos últimos tempos, com a casa mais limpa, era só alegria. Epa estava lindo, viçoso, com um jeito só seu de ficar mole como um ragdoll quando no colo.

Mas Nonon continuava no seu mundinho.
Ora em horas intermináveis caçando os movimentos das imagens da televisão. Ora em sonecas desacordadas sobre o calor do computador geralmente encerradas ao despencar no chão.

Essa era sua vida: fugindo, dormindo e caindo.

E foi assim que nos encontramos no último dia.
Já sem forças, Epa não mais fugia, nem mais dormia e sequer caía. Epa quase não nos via.

Com esforço saiu da caixinha que o abrigava.
Antes pequena agora um abrigo imenso para um corpinho frágil com uma expressão doída. De tanto raspado e de tanto espetado Nonon já nada mais queria.

Sem nenhum alarde ainda deu um salto num último espasmo.

Mas ele e nós já sabíamos:

Janeiro chegara ao fim.
E terminou naquela tarde.

 

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