31.12.09
30.12.09
29.12.09
eugênio montale 1896 -1981
VENTO E BANDEIRAS
A ventania que alçou o amargo aroma
do mar às espirais dos vales,
e te assaltou, desgrenhou teu cabelo,
novelo breve contra o pálido céu;
a rajada que colou teu vestido
e rápida te modulou à sua imagem,
como voltou, tu longe, a estas pedras
que o monte estende sobre o abismo;
e como passada a embriagada fúria
retoma agora ao jardim o hálito submisso
que te ninou, estirada na rede,
entre as árvores, nos teus vôos sem asas.
Ai de mim! O tempo nunca arranja duas vezes
de igual maneira suas contas! E é esta a
nossa sorte: de outra maneira, como na natureza,
nossa história se abrasaria num relâmpago.
Surto sem igual, — e que agora traz vida
a um povoado que exposto
ao olhar na encosta de um morro
se paramenta de galas e bandeiras.
O mundo existe... Um espanto pára
o coração que sucumbe aos espíritos errantes,
mensageiros da noite: e não pode acreditar
que homens famintos possam ter sua festa.
(tradução: Geraldo H. Cavalcanti)
28.12.09
27.12.09
26.12.09
25.12.09
23.12.09
21.12.09
dois - luiz claudio lins
Sigamos em frente
Como dois cachalotes
Serenos, sonolentos e sábios
Sigamos incrustados
Com nossas lembranças cracas
Com nossos sonhos frascos
Sigamos atentos
Contra as intempéries
Contra os que nos querem fenecidos
À espera do nosso âmbar.
Sigamos marinhos
Admirando
A elegância dos cavalos
A alegria das lontras
As tatuagens dos marujos.
Sigamos amigos
Sem sangue nas feridas
Singrando entre os males
Com nossos corpos pachorrentos
Nossos corações imensos
Imersos
sob os sofrimentos.
Sigamos, então, encostados
Sabendo que o eco do nosso canto
É que nos protege
Daquilo e daqueles
que teimam em seguir nosso rastro.
Junho-2007