Queria ensinar o canto
que tanto aprecias
mas apenas ofereço um tanto
da minha vigília e do meu espanto.
cessar tua dor
curar o vazio infindo que te consome
mas só sei aguardar o teu repouso
que me assusta e me deixa insone.
dar-te a casa
enorme, mágica e isolada
para viveres invisível
e não neste claustro de Lázaro.
esculpir teu corpo
torná-lo titâ, priápico e imenso
ainda que tal visão me despertasse
a cobiça e o desejo de alimento.
não ser teu mal
ferindo tua frágil couraça
com meus humores febris
e com minhas frases chagas.
ter o montante
o suficiente para teu adeus
em um cruzeiro pelos mares
mesmo que só a saudade me restasse.
que minha voz e meus ímpetos
fossem úteis de verdade
que meus gestos fossem sempre gentis
e dizer o quanto os teus me agradam.
Queria por fim te dar o fim
teu maior desejo
mas o medo me impede
e novamente começo:
Queria ser real
Não queria ser palavra.
maio,2005