11.9.10
amizade em drop-shot
Me apaixono com muita facilidade. Hoje bem menos pois aprendi o quanto sofro e padeço quando ela vem e me invade. Mas, de vez em quando, me pego acometido por paixões mais leves. Essa foi há 20 anos. Final de um ciclo. O trabalho, o casamento e o velho "eu". Ele era o novo, um garoto que lia e gostava das coisas que escrevia. Não sei se entendia que era para ele e por ele que eu poetava. Seu nome era Peri. Soube que quase morreu tempos atrás. Salvou-se. Então me sinto livre de contar que alguém por ele, um dia, quase morreu do mal da paixão: tanto amar sem ser amado.
Você vai chegando eu troco o disfarce
Você quase não fala eu só respondo
Teus olhos fugazes são meus anabólicos
Você pelos bares eu em casa só lembro
Eu chego na praia você perto do fogo
Você telegrama-falado eu sem teu endereço
Você "outros papos" eu volto no tempo
Eu que insisto você nem sabe que existo
Você enseada eu já mar aberto
Eu pop-balanço você numa batida de reggae
Você madrugada eu noite adentro
Teu sono pesado eu quieto contemplo
Você na alça de mira eu me rendo
Você nem entende eu atrás de presentes
Eu fim de tarde você indo embora
Eu meio tímido você full-contact
Você pensa que engana eu nem me atrevo
Eu perdido no espaço você feito desenho
Eu armando um cinema você nem percebe
Você cumprimenta eu digo obrigado
Você explicando eu “parado no lance”
Eu fico sem graça você nem se ofende
Teu fim de semana eu a todo momento
Uma voz telefônica que eu nunca esqueço
Você no princípio eu corro perigo
Você nem percebe meu coração agradece
Quando bebe você fala o que não deve
Eu tento ser esperto você acaba se ferindo
Eu já sem palavras você mini-série
Eu me esqueço e você tão incerto
Eu na chuva você molhado e com frio
Você tem medo de eu ser teu abrigo
Você com saúde eu viro fã-clube
Eu finjo nosso encontro
Você por aqui sem saída
Eu invento ritmos e você ainda resiste
Você num sorriso que eu guardo comigo
Eu até amanhã você não sabe se deve
Você embora deseje não quer saber do meu beijo
Você "Claro Enigma" e isso só me intriga
O que vai ser quando não houver mais segredos?
Você tem coragem que eu chegue tão perto?
Eu sonho de olhos abertos e você nem de leve?
Alguma coisa existe ou nada acontece?
Você quer vir do outro lado da vida?
Vai brincar ou a gente enlouquece?
Você se arrisca e joga comigo a partida?
Quando te amar você do meu lado adormece?
Se não for assim, então deixa . Não serve
Pois a vida, se você não sabe, é um risco
Um golpe de perícia
Ela é só isso
E é breve.
Outubro, 1990